Madrugada chuvosa. Encharcada, Sarita, enfermeira plantonista da santa casa, se abriga sob uma parada de ônibus. nenhuma alma viva na rua. Até que ela escuta uma voz rouca ao longe:
- Sarita...
Um frio percorre a espinha de Sarita, que arregala os olhos e permanece inerte:
- Sarita...
- Quem chamou?
- Eu... O Zé...
- Mas que Zé?
- Aquele que vai puxar seu pé...
Nesse momento, Sarita sente uma presença, mas não havia ninguém:
- Pelamordedeus. se eu fiz alguma coisa pra alguém do outro mundo, juro que foi sem querer.
- Sarita...
- Ai, meu Deus.
- Você me deixou, Sarita...
- Deixar você? Mas eu nunca tive nenhum homem na vida e...
- Deixa eu terminar a frase, Sarita... Você me deixou na maca... Me deixou morrer...
Sarita se benze:
- Cruz credo! Mas o que você tá dizendo?
- Aquela noite... Eu cheguei ensanguentado no hospital...Sujo... Eu era um mendigo, Sarita... E você me deixou na maca... Mal me tocou...
- Quando isso?
- Há três longos anos...
- Mas faz muito tempo. Entra gente assim no hospital o tempo todo. Você não quer que eu me lembre de você e...
- Sarita, cale a boca...
- Mas eu preciso me defender e...
- Não adianta se defender... Eu vim para te levar...
- Me levar?
- Sim... Levar para o inferno, que é de onde eu vim...
- Do inferno? Aqui é o inferno...É só ver este tempo infernal, esta chuva...Olha, me desculpe, mas, se foi para o outro inferno, boa coisa você não era...
- Fui para lá por sua causa...
- Desculpe, mas eu acho que você está enganado.
- Não, enfermeira Sarita. Não estou...
- Existe alguma maneira de me redimir? Não posso morrer agora que fui promovida a enfermeira-chefe.
- Não existe nada que eu possa fazer. Essa é a sua hora.
- E com a ordem de quem você vai me levar?
- Com a minha própria ordem...
- E o seu superior está informado disso?
- Superior?
- Sim... O chefe do submundo do inferno...
- Ele não precisa saber...
- Como não? Você acha que pode decidir quem vai para o inferno ou não, Zé? Não é assim.
- Não?
- Claro que não. Veja: agora que fui promovida a enfermeira-chefe, nenhuma enfermeira está autorizada a certos procedimentos sem a minha autorização. Você não passa de um enfermeiro no hospital do inferno. Falta muito ainda, vai por mim. Sei como é.
- E como eu consigo?
- Ah, é fácil. Assim que alguns mendigos bebuns surgirem no seu caminho, faça de conta que não os viu.
E essas foram as últimas palavras de Sarita, que não desfrutou um dia sequer sua promissora carreira de enfermeira-chefe da santa casa. Tudo porque falou demais com uma alma vingativa, que vinha das profundezas do inferno.
- Sarita...
Um frio percorre a espinha de Sarita, que arregala os olhos e permanece inerte:
- Sarita...
- Quem chamou?
- Eu... O Zé...
- Mas que Zé?
- Aquele que vai puxar seu pé...
Nesse momento, Sarita sente uma presença, mas não havia ninguém:
- Pelamordedeus. se eu fiz alguma coisa pra alguém do outro mundo, juro que foi sem querer.
- Sarita...
- Ai, meu Deus.
- Você me deixou, Sarita...
- Deixar você? Mas eu nunca tive nenhum homem na vida e...
- Deixa eu terminar a frase, Sarita... Você me deixou na maca... Me deixou morrer...
Sarita se benze:
- Cruz credo! Mas o que você tá dizendo?
- Aquela noite... Eu cheguei ensanguentado no hospital...Sujo... Eu era um mendigo, Sarita... E você me deixou na maca... Mal me tocou...
- Quando isso?
- Há três longos anos...
- Mas faz muito tempo. Entra gente assim no hospital o tempo todo. Você não quer que eu me lembre de você e...
- Sarita, cale a boca...
- Mas eu preciso me defender e...
- Não adianta se defender... Eu vim para te levar...
- Me levar?
- Sim... Levar para o inferno, que é de onde eu vim...
- Do inferno? Aqui é o inferno...É só ver este tempo infernal, esta chuva...Olha, me desculpe, mas, se foi para o outro inferno, boa coisa você não era...
- Fui para lá por sua causa...
- Desculpe, mas eu acho que você está enganado.
- Não, enfermeira Sarita. Não estou...
- Existe alguma maneira de me redimir? Não posso morrer agora que fui promovida a enfermeira-chefe.
- Não existe nada que eu possa fazer. Essa é a sua hora.
- E com a ordem de quem você vai me levar?
- Com a minha própria ordem...
- E o seu superior está informado disso?
- Superior?
- Sim... O chefe do submundo do inferno...
- Ele não precisa saber...
- Como não? Você acha que pode decidir quem vai para o inferno ou não, Zé? Não é assim.
- Não?
- Claro que não. Veja: agora que fui promovida a enfermeira-chefe, nenhuma enfermeira está autorizada a certos procedimentos sem a minha autorização. Você não passa de um enfermeiro no hospital do inferno. Falta muito ainda, vai por mim. Sei como é.
- E como eu consigo?
- Ah, é fácil. Assim que alguns mendigos bebuns surgirem no seu caminho, faça de conta que não os viu.
E essas foram as últimas palavras de Sarita, que não desfrutou um dia sequer sua promissora carreira de enfermeira-chefe da santa casa. Tudo porque falou demais com uma alma vingativa, que vinha das profundezas do inferno.
Nenhum comentário:
Postar um comentário