domingo, junho 6

Flores, flores

É sabido que os homens entendem cada vez menos do essencial. Apesar da evolução dos comportamentos, a maioria masculina ainda é totalmente despreparada para a execução dos atos existenciais mais simples. dificilmente um homem consegue , por exemplo, ao longo da vida parar de fazer xixi na tampa do vaso. A verdade é que os homens estão preparados para a política, a guerra, a diplomacia, os negócios, as grandes descobertas científicas e até as viagens espaciais(não que as mulheres não estejam); mas não estão preparados para aquilo que realmente conta, como saber quando não é não ou sim ou como carregar um buquê de flores numa rua movimentada.
O relato a seguir, foi-me contado pelo meu amigo Machado...
"Falo por experiência própria. Fui comprar flores para a Vera. Normalmente a gente manda flores. Faz parte do imaginário romântico. Alguns, porém, tiram um cartão da gaveta e encomendam flores como quem pede uma pizza. Portuguesa ou calabresa? Rosas ou orquídeas? O pior são os enganos: hortênsias em lugar de orquídeas. Outros nem se dão ao trabalho de fazer o pedido pessoalmente. Encarregam a secretária e vão cuidar de coisas que acham mais empolgantes, como a variação da taxa selic.
Asseguro que flores encomendadas por terceiros não tem o mesmo peso. A intuição feminina é fatal. Elas sabem quando o serviço foi terceirizado. Mandar flores é uma arte. Implica todo um ritual. Não se faz bem sem estilo.
Já viram um homem com um buquê de flores na rua? É uma experiência antropológica indescritível. O sujeito anda meio de lado, desconfiado de si mesmo, sentindo-se observado. Os vizinhos que passam por ele sorriem como que dizendo: "vai fazer uma média em casa". Os desconhecidos do século masculino olham com raiva como que denunciando uma traição à categoria. Parecem dizer: "cretino, vai nos obrigar a fazer o mesmo ou a ficar dando explicações". As senhoras idosas suspiram. Os olhos delas brilham com uma velha nova intensidade. As adolescentes ficam espantadas. As mulheres entre 35 e 50 anos quase pedem autógrafo. Algumas chegam a virar-se para olhar melhor como se estivessem diante de um extraterrestre. O próprio portador das flores sente-se chegando de Marte. Há quem fique até um pouco envergonhado ou intimidado.
Andar com um buquê de flores na rua pode ser muito perigoso para um homem. Ele corre o risco de não chegar em casa. Pode ser assassinado pelos colegas de classe. Ou sequestrado por alguma romântica mais radical. Se vacilar, aparecem propostas indecorosas ou até provocações do tipo: "é um cara assim que eu queria ter lá em casa". Garanto que o andar do homem com um buquê de flores na mão se torna diferente. Fica mais macio, cadenciado, sinuoso.
Sugiro para quem está em dificuldades para arranjar namorada que compre um buquê de flores e fique passeando nalgum ponto interessante. O resultado virá certamente: ou o sujeito casa ou as flores murcham. Mas algo acontece.
Quando o cara, superando todos os obstáculos do caminho, entrega as flores, sente-se recompensado pelo sorriso, pelo beijo e pela frase: "não precisava". Infeliz de quem acreditar nisso.

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